Guia da Semana

Depois da extremamente decepcionante experiência com The Lord of The Rings: Gollum, confesso ter ficado completamente baqueado com os jogos baseados na franquia de J. R. R. Tolkien. No entanto, com o anúncio de The Lord of the Rings: Return to Moria, pensei em dar mais uma chance a este universo maravilhoso e pensei: vai ser diferente desta vez. Pois bem, a Free Range Games e a North Beach Games lançaram o game para PC, via Epic Games Store, versão que tive a oportunidade de jogar, pois as previstas para PlayStation 5 e Xbox Series X|S foram adiadas, o que já nos dá um gostinho do que está por vir.

Diante dessa situação toda, além do trauma já citado com o título anterior, muitas coisas surgem na cabeça do jogador e/ou fã. E é exatamente nestes pontos que iremos focar. É claro, há muita coisa a ser dita e muitas salas desta grande mina para serem exploradas nesta análise. Desta forma, tal como em um simulador de sobrevivência, pegue seus equipamentos e se prepare para esta review!

Narrativa baseada nos contos de Tolkien

Antes de mais nada, vale a pena ressaltar aqui que The Lord of the Rings: Return to Moria tem um pano de fundo narrativo interessante. Ambientado na Quarta Era da Terra-média, o jogo nos coloca na perspectiva rebaixada dos anões, que, particularmente, são os personagens que mais gosto nos contos de Tolkien. Basicamente, o estilo survival do game nos leva a diversas aventuras em busca da restauração das minas de Moria – baseada nos relatos dos livros. Além disso, temos a presença de Gimli, um dos personagens mais icônicos de toda a franquia. Ele é o responsável por nos colocar nestas aventuras para as Montanhas Sombrias.

Até aí tudo bem. Somos colocados na Quarta Era da Terra-média, um personagem conhecido aparece, adentramos em Khazad-dûm, outro nome da região de Moria, várias referências a Durin, o mais velho dos sete pais de sua raça, mas… A história de The Lord of the Rings: Return to Moria não é lá muito envolvente, sobretudo após algumas horas de jogo. Confesso que ela carrega consigo várias informações e detalhes interessantes, mas o jogo está mais preocupado em trazer mais à tona o estilo que fez Valheim se tornar um sucesso temporário, focando muito mais no aspecto sobrevivência. É claro, há história no decorrer das descobertas, mas ela parece ser um tanto solta.

the lord of the rings return to moria
Imagem: Divulgação

De qualquer forma, é bom poder jogar um jogo desse estilo com a temática de O Senhor dos Anéis. Todavia, temos que levar em consideração que ela funciona mais como um princípio norteador do que propriamente o mote do jogo. Ainda assim, os desenvolvedores conseguiram transformar o cenário do jogo em algo muito próximo à realidade vista nos filmes e outras representações dos anões de Tolkien. Nisso, a Free Range Games conseguiu acertar. E, de fato, criar coisas baseadas na Terra-média, garantidamente, sempre acaba tendo seu charme. E nisso não posso criticar The Lord of the Rings: Return to Moria.

Crie um anão e saia por minas criadas proceduralmente

Logo ao iniciar o jogo, temos a introdução cinemática, em que Gimli aparece falando da missão dos anões em recuperar as minas que já foram a casa dos anões. Assim, poderemos criar nosso anão, personalizando cabelo, barba e outros pontos bem característicos dos pequenos e icônicos personagens. E o bacana da ideia de The Lord of the Rings: Return to Moria é que este é um jogo focado em ser jogado online. É claro, é possível sim que você jogue offline, mas a experiência não é a mesma.

Mas vale ressaltar que este é um jogo de sobrevivência sandbox, algo que pode limitar o público, sendo uma experiência meio nichada, sobretudo pela diversidade desesperadora de coisas para se fazer durante as incontáveis horas de jogatina. Ou seja, não é um jogo simples de aventura linear! E isso é questão de gosto, mas eu até que me diverti um pouco andando pelas minas geradas de maneira procedural. O problema desse estilo de jogo é que há muita coisa a ser feita, muita informação, e, por vezes, os jogadores se encontram perdidos. Isso acaba tirando o foco e a vontade de dar continuidade. Mas vou tentar elaborar melhor isso.

the lord of the rings return to moria
Imagem: Divulgação

A sensação que tive ao jogar foi a de que os objetivos do jogo são interessantes, mas ao prosseguirmos, ele vai ficando meio solto, abrindo lugares demais para serem explorados, não definindo muito bem um norte, embora ele tenha missões principais e outras secundárias. Eu cheguei em um ponto que não sabia mais para onde ir, e quando ia procurar pedaços do machado de Durin, só dei o azar de encontrar algumas salas vazias.

Mas é claro, isso não tira o fato de que, enquanto um jogo de sobrevivência, The Lord of the Rings: Return to Moria mescla as melhores mecânicas de outros títulos. É claro, não inventa a roda, mas traz o gênero para a Terra-média, e isso muda muita coisa.

Felizmente, The Lord of the Rings: Return to Moria é localizado para o português brasileiro, facilitando demais o entendimento das missões e das informações encontradas ao longo da aventura. Neste ponto, os desenvolvedores acertaram bastante, sobretudo pelo Brasil ter milhares de fãs das histórias criadas por Tolkien. No entanto, confesso sofrer com a ideia de ter que fazer coisas minuciosas para sobreviver em um jogo. Afinal de contas, não acho lá tão divertido esse aspecto survival em que temos de fazer comida, dormir e recriar uma série de coisas da realidade. Entendo a proposta, claro, mas é dose chegar do trabalho e ter que viver uma vida virtual, mesmo na Terra-média.

the lord of the rings return to moria
(Imagem: Divulgação)

Desta forma, posso dizer que The Lord of the Rings: Return to Moria é um jogo que é bacana no que se propõe, mesmo não sendo perfeito. Porém, para os fãs dos jogos anteriores, que tinham narrativas mais “lineares”, por assim dizer, este jogo foge totalmente do padrão. Não é ruim, mas é aquele tipo de título que requer muito tempo, muita paciência, muitas mortes e incontáveis retornos. E, honestamente, nem o pano de fundo foi o suficiente para me prender tanto. Uma pena. Mas, de novo, o jogo não é ruim. São só escolhas mesmo.

Jogabilidade e outros pontos

Falar da jogabilidade de The Lord of the Rings: Return to Moria acaba sendo o mesmo que falar de outros jogos do gênero. Não há nada de radicalmente diferente de outros títulos de sobrevivência. Você faz comida, procura materiais para construir armas, ferramentas e itens para o abrigo, e por aí vai. Então, neste ponto, o jogo funciona bacana. Talvez as batalhas soem como bem genéricas, tendo inimigos que, por vezes, mesmo atacando em bando, não oferecem lá tanto desafio. O problema é que alguns deles demoram um bocadinho pra morrer, e aí já viu, né!? Requer mais paciência ainda.

Mas uma coisa as minas do game trazem com precisão: por serem profundas e contarem com alguns pontos de iluminação advinda do exterior e até mesmo de tochas espalhadas pelos goblins, orcs e outras criaturas, elas nos trazem uma sensação bem imersiva. E, para isso, The Lord of the Rings: Return to Moria usa e abusa dos recursos de luz e sombra, que são um destaque positivo na experiência. Em diversos momentos, ficamos imersos em uma escuridão absurda, que nem tochas dão conta de nos dar um norte. E, em outros momentos, a luz do sol adentra as diferentes salas da mina, afastando assim algumas criaturas, que só aparecem à noite.

the lord of the rings return to moria
(Imagem: Divulgação)

No quesito gráfico, confesso que achei que The Lord of the Rings: Return to Moria deixou um bocado a desejar. Mesmo com as configurações no máximo, você nitidamente percebe que o título não se preocupou muito com a parte visual. Não é uma grande aberração, é verdade. Mas, se levarmos em conta que o jogo sairá apenas para consoles da nova geração, era de se pensar em criar gráficos mais aprimorados. É claro, isso não é um problema grave, mas é algo que logo ao abrir o jogo, a gente acaba percebendo. E não, isso não influencia no quesito diversão. Como eu disse anteriormente, existem outros fatores para isso.

E bem, os gráficos limitados não tiraram o poder imersivo da luz e da escuridão…

Vale a pena comprar The Lord of the Rings: Return to Moria?

Sinceramente, isso vai muito mais por uma questão de gosto, do que por ser fã. The Lord of the Rings: Return to Moria é um survival sandbox baseado nos anões da Terra-média, mas isso acaba ficando escanteado em algum momento. O foco do jogo é, como o próprio gênero diz, criar ferramentas e outros apetrechos para sobreviver o máximo ao longo de incontáveis salas, em uma mina praticamente sem fim. É um baita desafio, é verdade, e a experiência de jogo acaba ficando mais bacana com outras pessoas ao seu lado, que tornam a experiência de exploração em algo menos solitário do que no modo offline.

Então, se você é fã de O Senhor dos Anéis e curte a ideia de um jogo de sobrevivência baseado na Terra-média, esse jogo foi feito carinhosamente para você. Contudo, se você ainda é fã da obra de Tolkien e não curte muito o estilo do jogo, é melhor caçar outra aventura da franquia para jogar. Se bem que, pelo preço atual, de R$ 107,00, vale a pena tentar explorar as minas e, sei lá, vai que você se descobre um grande fã do gênero? Talvez a aura da Terra-média te deixe mais curioso, vai saber.

Em minha experiência, confesso que esperava mais, e acabei novamente ficando decepcionado. Há muitas questões pessoais aqui, claro, mas quem jogar vai compreender pelo menos parte do que estou dizendo. Por fim, eu sinceramente acho que a Embracer, responsável pela Middle Earth Enterprises, deveria começar a ser um pouco mais “seletiva” ao vender os direitos da obra lendária de J. R. R. Tolkien. Sobretudo depois do fiasco do tenebroso jogo baseado em Gollum…

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela North Beach Games.

Pizza Fria

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Por Álvaro Saluan, Pizza Fria

Atualizado em 25 Out 2023.