O cenário artístico nova-iorquino dos anos 70 e 80 tem um nome e ele é Jean-Michel Basquiat. O artista afro-americano é um dos mais curiosos e autênticos dentro da metade do século 20 pra cá - sim, mesmo após sua morte, em 1988, seu sucesso só cresceu entre os museus, críticos e compradores - e o Brasil terá a honra de receber uma retrospectiva completa contando sua história.
A exposição 'Retrospectiva sobre Jean-Michel Basquiat', que tem entrada gratuita, chega ao CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil) no dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, e fica em cartaz até o dia 7 de abril. Além da capital paulista, a mostra vai passar por Brasília (de 21 de abril a 1º de julho), Belo Horizonte (16 de julho a 26 de setembro) e Rio de Janeiro (12 de outubro a 8 de janeiro de 2019).
A equipe do Oba Oba visitou com exclusividade a exibição e reuniu algumas curiosidades sobre o acervo. Mas já adiantamos: é uma imersão completa e memorável para os fãs e apreciadores de Basquiat através de desenhos, telas, gravuras e pratos pintados por ele. Confira:
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
Filho de um haitiano e uma porto-riquenha, Basquiat nasceu em 1960, mas morreu jovem, aos 27 anos, de overdose. Ao longo da sua carreira, o artista se consolidou como um gênio inventivo e excepcionalmente autêntico, mostrando através de diversas formas o real cenário vivido pela cidade de Nova Iorque nos anos 70 e 80 - época conturbada economicamente falando, mas de uma força artística imensa.
A exposição aborda as milhares de facetas do afro-americano, que retratava em suas pinturas opiniões pessoais sobre política, literatura, arte e música - sempre de uma forma explosiva e única.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
Entre os vários corredores da exposição, determinados detalhes do artista são contrastantes e mostram a habilidade de Basquiat diante da arte. Com materiais simples e muitas das vezes descartáveis, o artista foi do 'lixo ao luxo' criando painéis brilhantes e que hoje valem milhões. A obra 'Yellow Tar and Feathers', de 1982, é apenas um dos seus trabalhos - esta é feita a partir de uma porta, tinta a óleo em bastão, giz, colagem de papel e couro.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
As inspirações dele também saíam de 'Gray's Anatomy', um livro de anatomia que ele ganhou de sua mãe quando sofreu um acidente e precisou ficar de cama. As relações do acontecimento com a sua arte estão nítidas em algumas obras, entre elas, 'Bracco di Ferro', de 1983.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
O artista não se incomodava com materiais gigantescos, inclusive usou várias vezes portas, peças de madeira e esquadras de janela para suas criações. Na foto acima, Basquiat fez uso de uma tela dobrável para que fosse possível fazer o deslocamento da mesma dentro de sua galeria.
Obra: 'Brother´s Sausage', de 1983.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
Nos começo dos anos 80, Basquiat se tornou um grande amigo de Andy Warhol, a maior figura do movimento de pop art, e, juntos, desenvolveram várias obras. Algumas delas estão expostas na mostra, por exemplo a 'Heart Attack', de 1984. O trabalho é um dos maiores da exibição e é uma junção da serigrafia de Warhol e as frases, frequentemente poéticas, do afro-americano.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
'Two Dogs' também nasceu da parceria entre Warhol e Basquiat. Porém, após lançarem diversos trabalhos juntos, a crítica, infelizmente, apontou que, aparentemente, Basquiat era um 'fantoche' do pai da pop art. De certo modo, as opiniões acabaram influenciando na relação de ambos e houve um afastamento - ao que tudo indica, deve ter sido da parte de Jean-Michel.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
O ano de 1981 tem um significado grande para a trajetória de Basquiat. Foi nesta época que seu sucesso se tornou mundial após um artigo da Artforum. Este foi o momento em que ele mais se concentrou artisticamente e, a partir daí, nasceram obras como 'The Field Next to the Other Road'.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
Os gostos pessoais do artista ganharam uma parede completa no 2º andar do CCBB. Ali estão expostas várias porcelanas pintadas por Basquiat em homenagem a personalidades, pintores, músicos e amigos admirados por ele. É possível se deparar com figuras caricatas de nomes como Walt Disney, Picasso, Andy Warhol e Salvador Dalí.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
Mesmo com seu vício em cocaína impactando fortemente em sua vida, o artista não deixou de produzir até o fim. Por sinal, suas obras mais expressivas e que criticavam diretamente a posição do negro na sociedade foram produzidas em anos como 1986. 'Procession' é uma delas.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
A espontaneidade nunca deixou de estar presente nos trabalhos do afro-americano. Suas características se tornaram um conjunto de habilidades incomuns e preciosas no mundo da arte. Ao longo da exposição é possível dizer que, além de retratar o cenário nova-iorquino lá dos anos 70 e 80, Basquiat se encaixa com maestria na sociedade atual. Um bom exemplo é a questão da diversidade de informação que as pessoas precisam lidar diariamente – nas obras do afro-americano há um misto de opiniões, imagens, detalhes e materiais para serem entendidos.
Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil
O medo não se fez presente na carreira do neo-expressionista. Ao se arriscar e viver novas experiências artísticas, ele garantiu que seu trabalho se tornasse notável e ganhasse tamanha repercussão. Por isso, não é de se espantar que hoje suas obras sejam cobiçadas por grandes colecionadores.
Por Juliane Romanini
Atualizado em 23 Jan 2018.