Guia da Semana

O crescimento das apostas esportivas no Brasil, impulsionado pela legalização do setor e por campanhas de marketing cada vez mais agressivas, trouxe consigo um fenômeno preocupante: o aumento de pessoas com comportamentos compulsivos e vício em bets.

A facilidade de acesso aos jogos de azar, aliada à promessa de ganhos rápidos, tem levado muitas pessoas a desenvolverem uma dependência que pode causar sérios danos financeiros, emocionais e sociais.

A praticidade de apostar pelo celular ou computador transformou o mercado de apostas esportivas em um negócio bilionário, atraindo milhões de brasileiros diariamente. Para muitos, o ato de apostar é apenas uma forma de entretenimento. No entanto, para uma parcela significativa, as apostas se transformam em uma armadilha perigosa, onde o desejo de "recuperar o que foi perdido" acaba se tornando uma obsessão.

Elizabeth Carneiro, especialista em dependência clínica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e diretora da Clínica Espaço Clif, afirma ao portal Drauzio Varella: “A máquina caça-níquel é uma das mais aditivas, porque o reforço é imediato.

Você sabe se ganhou ou se perdeu imediatamente. A rapidez do reforço é o que determina o potencial de dependência. Agora, o que você tem é um caça-níquel ambulante, porque se não está rolando o jogo de futebol, está rolando o de vôlei. Então você pode jogar o dia todo.”

Segundo dados do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso, vinculado ao Hospital das Clínicas da USP, a procura por tratamento para o vício aumentou 175%.

As apostas, que muitas vezes começam como uma brincadeira entre amigos, podem facilmente evoluir para uma atividade compulsiva. A popularidade dos esportes no país, aliada à facilidade de acesso às plataformas de apostas, transforma conversas casuais sobre jogos, como previsões de gols ou faltas, em apostas. O problema, como alertam especialistas, é que essa "brincadeira" pode rapidamente sair de controle.

O psiquiatra Leonardo Carriço Apostolatos, do Instituto de Psiquiatria da USP, destaca que, apesar de o conhecimento sobre o esporte dar uma falsa sensação de segurança aos apostadores, a aleatoriedade sempre estará presente. As plataformas de apostas utilizam cálculos complexos e operam com base em probabilidades, o que torna impossível prever resultados com total precisão.

"Então, por mais que os jogadores tenham um conhecimento profundo daquele jogo e, principalmente quando ele tem o conhecimento profundo daquele jogo, pode haver uma falsa sensação de que ele também tem o controle da situação", afirma o especialista portal Drauzio Varella.

Conforme afirma o jornal Nexo, a magnitude do problema é evidenciada pelos números: entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros perderam cerca de R$ 23,9 bilhões em apostas, segundo um estudo do banco Itaú.

Além disso, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) adverte que as apostas não devem ser vistas como uma forma de investimento. A entidade compara: R$ 120 mensais apostados poderiam, se investidos em aplicações seguras como o Tesouro Selic, render mais de R$ 4 mil em pouco mais de dois anos.

Como identificar o vício em apostas?

Segundo o jornal Nexo, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria, estabelece os critérios para determinar se uma pessoa apresenta o transtorno do jogo.

Caso a pessoa apresente dois ou mais dos sintomas listados a seguir, ela pode ser classificada como portadora de uma dependência, que pode variar entre leve, moderada ou severa:

  • Necessidade de apostar quantias cada vez maiores de dinheiro para sentir o mesmo nível de excitação;
  • Sentir-se inquieto ou irritado ao tentar reduzir ou interromper as apostas;
  • Ter feito tentativas malsucedidas de controlar, diminuir ou parar de apostar;
  • Preocupação constante e pensamentos recorrentes sobre apostas;
  • Jogar apesar de se sentir angustiado ou culpado;
  • Após perder dinheiro, retornar no dia seguinte com o intuito de recuperar o que foi perdido;
  • Mentir para ocultar o nível de envolvimento com jogos de azar;
  • Perder um relacionamento, oportunidade de emprego ou estudo em consequência das apostas;
  • Depender financeiramente de terceiros para cobrir prejuízos causados pelo jogo.
  • Diferente de outros tipos de jogos de azar, que exigem deslocamento físico até um local específico, as apostas esportivas estão disponíveis a qualquer hora diretamente no celular, o que facilita o acesso e torna o risco de dependência ainda maior.

O tratamento para dependência em jogos, inclusive em bets, pode ser realizado gratuitamente através do Sistema Único de Saúde (SUS), em unidades básicas de saúde ou nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), especializados em doenças psiquiátricas.

Por Gabrielly Bento

Atualizado em 7 Out 2024.