Começa nesta quinta-feira, 19 de outubro, a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, trazendo a mais de 30 endereços uma seleção com quase 394 filmes de 59 países, incluindo 64 títulos brasileiros. Entre tantas opções, há sempre aquelas surpresas e aqueles filmes que você acaba descobrindo sem querer, esbarrando durante uma sessão e outra. Há, também, aqueles que já chamam uma atenção especial desde o início, porque acumularam prêmios em outros festivais ou são trabalhos de diretores que já se provaram em outras edições do evento.
Confira, aqui, uma lista com os primeiros destaques para você começar a montar sua agenda da Mostra 2017:
CAFÉ COM CANELA
Recôncavo da Bahia. Margarida vive em São Félix isolada pela dor da perda do filho. Violeta segue a vida em Cachoeira, entre adversidades do dia a dia e traumas do passado. Quando elas se reencontram, inicia-se um processo de transformação, marcado por visitas, faxinas e cafés com canela, capazes de despertar novos amigos e antigos amores.
Prêmios: Troféu Candango de Melhor Atriz e Roteiro e Melhor Filme pelo Júri Popular no Festival de Brasília.
Por que assistir: Queridinho do público no Festival de Brasília, o filme traz ao público um cinema essencialmente baiano que está começando a desabrochar, trazendo à tona temas como tradição, traumas históricos e cultura popular com delicadeza e afeto.
O OUTRO LADO DA ESPERANÇA
Khaled chega ao porto de Helsinque escondido em um contêiner de carvão, depois de fugir da guerra na Síria em busca de asilo na Finlândia. Frustrado com a administração monolítica que encontra no centro de detenção, ele logo foge para as ruas. Lá, encontra Wikström, um ex-vendedor de camisas que se separou da mulher alcóolatra para começar uma nova vida como dono de um restaurante. Juntos, eles ajudam um ao outro a enfrentar as dificuldades que surgem nesse desconhecido e desconcertante novo mundo.
Prêmios: Vencedor do Urso de Prata de melhor diretor no Festival de Berlim. Vencedor do prêmio da crítica em San Sebástian.
Por que assistir: Com mais de 50 prêmios no currículo, Aki Kaurismäki equilibra sua veia cômica com uma história de violência e desventuras inserida no contexto atual da crise dos refugiados.
O TERCEIRO ASSASSINATO
Shigemori, um advogado renomado, assume a defesa de Misumi, suspeito de roubo e assassinato que já cumpriu uma pena por outro homicídio há 30 anos. As chances de Shigemori ganhar o caso parecem baixas —apesar de seu cliente assumir livremente a culpa e ter de enfrentar a pena de morte caso seja condenado. À medida que o advogado se aprofunda no caso, ouvindo testemunhas da família da vítima, ele começa a duvidar se seu cliente é o verdadeiro assassino.
Por que assistir: Novo filme do diretor japonês Hirokazu Kore-Eda (“Depois da Tempestade”, “Pais e Filhos”).
FÉLICITÉ
Félicité é uma mulher orgulhosa e independente que trabalha como cantora em um bar de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. Sempre que ela sobe ao palco, parece deixar todas as preocupações de lado. Mas um dia, seu filho sofre um terrível acidente. Enquanto ele está no hospital, ela tenta desesperadamente conseguir dinheiro para sua operação, e começa uma jornada pelas ruas pobres e pelos bairros ricos da cidade. Um dos clientes do bar, um homem chamado Tabu, se oferece para ajudá-la. Relutante, Félicité aceita.
Prêmios: Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim. Representante do Senegal no Oscar 2018.
Por que assistir: É a primeira vez que o Senegal participa da competição pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
GABRIEL E A MONTANHA
Antes de entrar para uma universidade americana de prestígio, Gabriel Buchmann, carregado de sonhos, decide viajar o mundo por um ano. Depois de dez meses na estrada, ele chega ao Quênia determinado a descobrir o continente africano. Até alcançar o topo do monte Mulanje, seu último destino.
Prêmios: Vencedor do Prêmio Revelação da Semana da Crítica do Festival de Cannes.
Por que assistir: Além de ser um filme brasileiro premiado num dos mais importantes festivais do mundo, “Gabriel e a Montanha” também foi sucesso de público na França, onde estreou comercialmente antes de chegar ao Brasil.
HUMAN FLOW - NÃO EXISTE LAR SE NÃO HÁ PARA ONDE IR
Filmado ao longo de um ano em 23 países, o filme segue uma corrente de histórias humanas que se espalha pelo mundo em países como Afeganistão, Bangladesh, França, Grécia, Alemanha, Iraque, Israel, Itália, Quênia, México e Turquia. Uma busca desesperada por segurança, abrigo e justiça: dos campos de refugiados lotados a perigosas travessias pelo oceano e fronteiras delimitadas por arames farpados; do deslocamento e da desilusão à coragem, resistência e adaptação; da ilusão de deixar vidas para trás ao potencial desconhecido do futuro.
Por que assistir: Um refugiado em seu próprio país, o artista plástico e cineasta chinês Ai Weiwei foi preso entre 2010 e 2011 por seu ativismo político e teve seu estúdio destruído pelas autoridades chinesas. Agora, ele lança um documentário sobre a realidade dos refugiados em outros lugares do mundo, refletindo sobre fronteiras, valores e humanidade.
JONAS QUE TERÁ VINTE E CINCO ANOS NO ANO 2000
As manifestações revolucionárias de 1968 conduzem a Europa a significativas transformações sociais. Um grupo de oito pessoas, entre seus 20 e 30 anos, acredita que finalmente o idealismo dos protestos de sua geração terá consequências. Todos querem encontrar alternativas de vida para um sistema que se afunda em suas contradições. Uma dessas pessoas tem um filho, Jonas, que terá 25 anos no ano 2000.
Por que assistir: Entre os trabalhos de Alain Tanner, homenageado na Mostra, este é o mais icônico e mais duradouro.
ASSIM É A VIDA
Max geriu uma empresa de catering por 30 anos. Ele planejou centenas de festas e está começando a ficar cansado. Mas hoje é o grande dia de Pierre e Helena. Eles estão se casando em um sublime castelo do século 17. Como de costume, Max organizou tudo. Ele recrutou seu time de garçons, cozinheiros e assistentes. Também indicou o fotógrafo ao casal, reservou a banda, cuidou dos arranjos de flores: tudo para fazer da festa um sucesso. No entanto, uma série de contratempos e uma agenda muito apertada pode transformar o instante de felicidade e emoção em um verdadeiro desastre e caos.
Por que assistir: Novo filme dos diretores franceses Olivier Nakache e Eric Toledano, que ficaram famosos pelo fenômeno mundial “Intocáveis”, em 2011.
SCARY MOTHER
Manana, uma dona de casa de 50 anos, se vê diante de um dilema. Ela precisa escolher entre a vida em família ou o seu amor pela escrita, atividade que reprime há anos. Manana decide seguir sua paixão, mergulhando em um sacrifício físico e mental.
Prêmios: Vencedor do prêmio de melhor primeiro longa-metragem no Festival de Locarno. Representante da Geórgia no Oscar 2018.
Por que assistir: Tenso e ligeiramente surreal, o filme explora o funcionamento por vezes destrutivo da mente de uma escritora, que enxerga em sua família, seus amigos e em tudo à sua volta uma possibilidade literária, doa a quem doer.
HAPPY END
“Ao nosso redor, o mundo, e nós, no centro dele, cegos”. Um retrato da vida de uma família burguesa europeia. Candidato austríaco ao Oscar 2018. Representante da Áustria no Oscar 2018.
Por que assistir: Um filme de Michael Haneke é sempre uma experiência de autocrítica e reflexão sobre o cinema e a humanidade. Nesse sentido, “Happy End” não decepciona e ainda funciona como uma espécie de continuação ou conclusão para outros filmes do diretor, como “Amor” e “Caché”.
OH LUCY!
Setsuko sente sua vida estagnada em Tóquio até sua sobrinha, Mika, convencê-la a matricular-se em um curso de inglês pouco convencional, em que ela precisa usar uma peruca loira e desempenhar o papel de uma norte-americana chamada Lucy. A nova identidade desperta algo dormente em Setsuko e, logo, ela se apaixona por John, seu professor de inglês. Quando ele repentinamente some, Setsuko descobre que John e Mika estavam namorando. Com a ajuda de Ayako, sua irmã, ela voa para o sul da Califórnia em busca do casal fugitivo.
Por que assistir: Desenvolvido a partir do curta-metragem de mesmo nome, “Oh Lucy!” conta com a rara marca de 100% no site Rotten Tomatoes e é um favorito da crítica internacional, por sua história inusitada e cheia de humor.
NÃO ME AME
Um casal contrata uma jovem imigrante para ser barriga de aluguel e a trazem para morar com eles em uma bela casa. Enquanto o homem passa os dias trabalhando, a mulher e a garota se conectam e curtem a vida de luxos do casal. Mas por trás de sua alegria forçada, a mulher parece cada vez mais depressiva. Depois de confrontar a garota, ela sai para dar uma volta. Na mesma noite o marido recebe uma ligação: sua mulher está morta, e seu corpo foi encontrado dentro do carro destruído.
Por que assistir: Novo filme do diretor de “Miss Violence” (2013).
LUCKY
A jornada espiritual de um ateu de 90 anos e os peculiares personagens que habitam uma cidade no deserto. Lucky fumou e viveu mais do que todos os seus contemporâneos e se encontra no precipício da vida. Ele é empurrado para uma jornada de autoexploração rumo ao que é frequentemente inalcançável: a iluminação.
Por que assistir: É o último papel do ator Harry Dean Stanton antes de seu falecimento em setembro deste ano e sua atuação tem impressionado a crítica. David Lynch atua no filme, mas, apesar do sobrenome, ele não tem parentesco com John Carroll Lynch – que faz sua estreia na direção.
The Square
Christian é o respeitado curador de um museu de arte contemporânea, um pai divorciado, mas dedicado, que dirige um carro elétrico e apoia boas causas. Sua próxima exposição é The Square, uma instalação que convida os transeuntes ao altruísmo, lembrando-os de seu papel como seres humanos responsáveis. Mas às vezes é difícil viver de acordo com seus próprios ideais: a resposta tola de Christian pelo roubo de seu telefone o leva a situações vergonhosas. Enquanto isso, uma agência de relações públicas criou uma inesperada campanha para promover The Square. A reação é exagerada e conduz Christian, assim como o museu, a uma crise existencial.
Prêmios: Vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Representante da Suécia no Oscar 2018.
Por que assistir: Novo filme do diretor de “Força Maior”, Ruben Östlund, e um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Três Anúncios Para Um Crime
Mildred Hayes é uma frustrada mulher do interior que está de luto pela morte da filha. Após meses sem que o assassinato da garota seja solucionado pela polícia, ela decide se vingar por conta própria.
Prêmios: Vencedor do prêmio Osella de Ouro de melhor roteiro no Festival de Veneza. Vencedor do Prêmio do Público em Toronto e em San Sebastián.
Por que assistir: Com duas atuações espetaculares de Frances McDormand e Sam Rockwell e um roteiro que ecoa trabalhos dos irmãos Coen, o filme reflete sobre as pequenas violências pessoais que se combinam incontrolavelmente num grande estado de violência, ajudando a compreender o momento em que vive o mundo (e em especial os EUA) hoje.
LOVING VINCENT
A vida e a controversa morte de Vincent van Gogh (1853-1890) contadas a partir de suas pinturas e dos personagens que as habitam. A narrativa se desenvolve por meio de entrevistas com personagens próximos ao artista e de reconstruções dramáticas dos eventos que o levaram à morte. O filme apresenta seus mais importantes quadros e o enredo é baseado em cartas escritas por ele.
Por que assistir: Primeiro longa-metragem feito completamente a partir de telas de pintura a óleo, técnica utilizada pelo pintor Van Gogh.
Visages, Villages
Agnès Varda e JR têm coisas em comum: sua paixão por imagens e, mais particularmente, o questionamento sobre os lugares onde elas são mostradas e a maneira como são compartilhadas e expostas. Agnès escolheu o cinema. JR escolheu criar galerias fotográficas ao ar livre. Quando os dois se conheceram, em 2015, imediatamente quiseram trabalhar juntos —fazer um filme na França, longe das cidades. Em encontros aleatórios ou planos pré-concebidos, eles partem em direção a outras pessoas e as convidam a segui-los em sua viagem no caminhão fotográfico de JR.
Prêmios: Vencedor do Olho de Ouro de melhor documentário no Festival de Cannes.
Por que assistir: A diretora belga, em atividade desde os anos 50 e participante da Nouvelle Vague francesa, ganha uma retrospectiva na Mostra e é uma das homenageadas do festival, além de já ter sido anunciada como ganhadora de um Oscar Honorário em 2018.
O MOTORISTA DE TÁXI
Maio de 1980. Um taxista azarado de Seul é contratado por um jornalista estrangeiro que quer ir para a cidade de Gwangju para passar o dia. Ao chegar, eles encontram a cidade tomada pelo governo militar, com os cidadãos, liderados por um grupo de estudantes determinados, pedindo liberdade. O que começou com uma corrida de taxi simples se torna uma luta de vida ou morte no meio da Revolta de Gwangju, evento real que aconteceu na Coréia do Sul.
Prêmios: Representante da Coreia do Sul no Oscar 2018.
Por que assistir: A Coreia do Sul está entre os países que mais têm surpreendido nos últimos anos com uma cinematografia ousada e diferente, trazendo sempre uma combinação inteligente de fantasia e crítica social. Aqui, Jang Hoon resgata um momento recente da história do país para exaltar a transformação de um personagem comum em herói.
LOVELESS
Zhenya e Boris estão passando por um terrível divórcio marcado por ressentimento, frustração e recriminações. Já embarcando em novas vidas, cada um com um novo parceiro, eles estão ansiosos para começar de novo e virar a página —mesmo que isso signifique uma ameaça de abandono para Alyosha, seu filho de 12 anos. Até que, depois de testemunhar uma das brigas dos pais, o garoto desaparece.
Prêmios: Vencedor do Prêmio do Júri em Cannes. Representante da Rússia no Oscar 2018.
Por que assistir: Dono de impressionantes 92% no site Rotten Tomatoes, “Loveless” é o novo filme do diretor de “Leviatã” e, como aquele, também é um dos fortes concorrentes ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
AS BOAS MANEIRAS
Clara, uma solitária enfermeira que vive na periferia de São Paulo, é contratada pela rica e misteriosa Ana para ser babá de sua criança que está para nascer. De maneira inesperada, as duas mulheres desenvolvem um forte vínculo. Porém, uma fatídica noite mudará os seus planos.
Prêmios: Vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Locarno. Vencedor do prêmio de Melhor Longa-metragem de ficção na Première Brasil, do Prêmio da Crítica e do Prêmio Félix no Festival do Rio.
Por que assistir: Juliana Rojas e Marco Dutra são dois dos cineastas mais criativos do cinema brasileiro atual, tendo ajudado a lançar um “novo” suspense nacional cheio de humor negro com títulos como “Trabalhar Cansa”, “Sinfonia da Necrópole” e “Quando Eu Era Vivo”.
Por Juliana Varella
Atualizado em 27 Out 2017.