Guia da Semana

Foi dada a largada! Mais uma Mostra Internacional de Cinema de São Paulo está começando e, com ela, lançamos mais um Dossiê do Guia da Semana com comentários sobre todos os filmes que nossos repórteres conseguirem assistir ao longo dos 14 dias de evento. As atualizações serão feitas diariamente. Que comece a maratona!

Três Anúncios Para Um Crime
(Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, Martin McDonagh, Reino Unido, EUA, 2017)

Avaliação: Excelente

Duas atuações espetaculares (de Frances McDormand e Sam Rockwell) fazem de “Três Anúncios” uma das opções mais fortes da Mostra e, também, um candidato a ser batido no Oscar 2018. O filme tem no centro uma mãe (McDormand) que perdeu a filha num crime hediondo e decide cobrar agilidade da polícia de uma forma peculiar: alugando três outdoors na estrada e colocando neles uma mensagem provocadora. Sua ação, porém, desperta a hostilidade de outros moradores e dá início a uma espiral de violência que revela o melhor e o pior dentro de cada um dos habitantes de Ebbing, Missouri. Um filme para refletir sobre o estado atual do mundo e as consequências do ódio, em qualquer circunstância.

Happy End
(Michael Haneke, França, Áustria, Alemanha, 2017)

Avaliação: Bom

O novo filme de Michael Haneke parece buscar inspiração na própria obra do diretor, trazendo de volta temas trabalhados em “Amor” e “Caché”, mas sem a ousadia daqueles. Poderoso no que diz respeito à construção dos personagens e da crítica à mesquinhez do ser humano, o filme escorrega ao tentar abordar questões fora de sua especialidade, como as redes sociais e a crise de refugiados. No primeiro caso, Haneke interpreta a cultura dos vídeos de internet como se fosse uma febre de Super8 dos anos 70, quando se registrava o mundo através da lente, mas ainda não se podia interagir em tempo real – e interação é tudo na cultura digital. No segundo, ele parece lançar o tema dos refugiados como um contexto distante e irrelevante, lembrado mais como um recurso usado por um personagem pontual do que como um assunto em si.

Scary Mother
(Ana Urushadze, Geórgia, Estônia, 2017)

Avaliação: Muito bom

Manana quer ser escritora e sua família está fazendo o possível para apoiá-la. Ela tem um quartinho só seu e pode até fazer as refeições sozinha enquanto estiver terminando seu primeiro romance... O problema é que ela está quase acabando, e eles não vão gostar nem um pouco do que ela escreveu. Um divertido e sinistro conto sobre a natureza da escrita e as expectativas que se colocam sobre uma mulher autora.

O Vale das Sombras
(Skyggenes Dal, Jonas Matzow Gulbrandsen, Noruega, 2017)

Avaliação: Regular

A imaginação fértil de Aslak é alimentada por seu melhor amigo, que diz que um lobisomem tem atacado as ovelhas de seu pai. Paralelamente, a polícia aparece na casa de Aslak perguntando por seu irmão mais velho, que ele nunca conheceu... Seria ele o verdadeiro monstro? E será que as respostas estariam naquela floresta assustadora no topo da montanha? Neste drama norueguês, uma aura de mistério envolve a vida do garotinho e sua viagem solitária à mata perigosa, mas pouco se revela na jornada além dessa aparência de medo. Um filme lento que não surpreende e funcionaria melhor como um curta ou média metragem.

24 Frames
(Abbas Kiarostami, Irã, França, 2016)

Avaliação: Bom

Nos últimos três anos de sua vida, o cineasta iraniano Abbas Kiarostami realizou um experimento audiovisual que, agora, chega às telas em forma de longa-metragem, apesar de se encaixar melhor numa instalação multi-telas. Em “24 Frames”, o diretor transforma fotografias em filmes ao adicionar som e movimento a elementos da imagem. Em cada segmento, o público se vê “descobrindo” o cinema ao ver aquelas imagens estáticas se tornarem narrativas carregadas de tensão, expectativa e novos significados, pela simples presença de animais ao fundo, uma rajada de vento ou uma trilha sonora. Para o espectador, porém, fica o aviso: pode ser bastante cansativo atravessar os 24 frames de cerca de 4 minutos cada.

Pequenas Asas
(Tyttö Nimeltä Varpu, Selma Vilhunen, Finlândia, Dinamarca, 2016)

Avaliação: Muito bom

Varpu é uma menina de 12 anos extremamente independente. Ela vai sozinha às aulas de equitação, sai com os amigos quando quer, aprende a dirigir e, um dia, entra num carro roubado e atravessa a estrada até a cidade onde mora seu pai – sobre quem sua mãe nunca quis falar. O drama finlandês trabalha de forma surpreendente questões como o excesso de responsabilidade colocado sobre uma criança, as diversas relações conflituosas que compõem uma família e até as relações tóxicas que se formam entre pré-adolescentes, tão inseguros e, ao mesmo tempo, tão cheios de si.

The Square
(Ruben Östlund, Suécia, Alemanha, França, Dinamarca, 2017)

Avaliação: Bom

O vencedor da Palma de Ouro de 2017 é uma peça que pretende provocar em diversos níveis, mas se distrai em diálogos didáticos empilhados numa trama sem foco. O protagonista é Christian, um galerista famoso que se prepara para inaugurar uma nova exposição – uma instalação que delimita um quadrado onde as pessoas são convidadas a ajudarem umas às outras. Paralelamente, sua vida pessoal é inundada por situações confusas que questionam sua própria capacidade de sentir a empatia que propõe no museu.

Visages, Villages
(Agnès Varda, JR, França, 2017)

Avaliação: Excelente

Aos 88 anos, a diretora Agnès Varda viaja com o jovem muralista JR pelas vilas rurais da França em busca de personagens, histórias e retratos gigantescos para colar em fachadas, muros e contêineres. No caminho, eles se divertem e conversam sobre cinema, arte, velhice, família e velhos amigos. Um documentário delicioso e pessoal captado pelas lentes de um dos nomes mais icônicos do cinema francês.

O Dia Depois
(Geu-hu, Hong Sang-soo, Coreia do Sul, 2017)

Avaliação: Regular

Existe uma linha delicada entre o cinema do cotidiano que revela verdades profundas (como o feito por Hirokazu Kore-eda) e aquele que apenas expõe o real em toda a sua banalidade, como é o caso de “O Dia Depois”, de Hong Sang-soo. Aqui, o dono de uma editora trai a esposa com sua funcionária, mas, quando ela descobre, vai tirar satisfação com a mulher errada. Toda a trama se desenrola em diálogos extensos e cortes bruscos, questionando o tempo todo o protagonista sobre sua covardia e suas escolhas. Poucas consequências emergem de tudo isso.

Oh, Lucy!
(Atsuko Hirayanagi, Japão, EUA, 2017)

Avaliação: Muito bom

A pedido da sobrinha, a japonesa Setsuko começa a frequentar um curso de inglês, onde o professor usa um método inusitado: ele dá a ela o nome de “Lucy” e a incentiva a relaxar, abraçar os colegas e se soltar, como forma de “mergulhar” na cultura americana. Quando o professor e a sobrinha fogem para os Estados Unidos, Lucy e sua irmã viajam até a Califórnia para encontrá-la e, no caminho, confrontar antigas mágoas. Um filme ao mesmo tempo ensolarado e melancólico, que reflete sobre solidão, traição e amor próprio. Surpreendente.

As Boas Maneiras
(Juliana Rojas, Marco Dutra, Brasil, França, 2017)

Avaliação: Excelente

Dos mesmos diretores de “Trabalhar Cansa”, “As Boas Maneiras” conta a história de Clara (Isabél Zuaa), uma mulher que é contratada pela rica Ana (Marjorie Estiano) para ajudá-la enquanto ela espera por seu bebê. Com o tempo, as barreiras entre as duas vão se dissolvendo e elas se aproximam, até que Clara descobre algo sombrio sobre a patroa. Corajoso, o filme explora o realismo fantástico e insere uma clássica fábula de monstro num contexto de drama social, criando uma experiência divertida, assustadora e diferente de tudo o que o público já viu.

O Motorista de Táxi
(Taeksi Woonjunsa, Jang Hoon, Coreia do Sul, 2017)

Avaliação: Muito bom

Para o público brasileiro, o candidato sul-coreano ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro 2018 tem um sabor amargamente familiar. O longa – mistura de drama e comédia – narra os conflitos entre o exército e os universitários (e, eventualmente, toda a população) na cidade de Gwangju durante a ditadura militar em 1980. Inspirado numa história real, o filme acompanha um repórter alemão que consegue se infiltrar na zona de guerra, rigorosamente bloqueada pelo governo, com a ajuda de um taxista ganancioso de Seul. Enquanto a repressão acontece, o restante do país é alimentado com notícias falsas sobre os números de mortos e feridos e sobre os motivos dos protestos.

Com Amor, Van Gogh
(Loving Vincent, Dorota Kobiela, Hugh Welchman, Polônia, Reino Unido)

Avaliação: Muito bom

Tributo ao pintor holandês considerado um dos “pais” do modernismo, “Com Amor, Van Gogh” é um longa-metragem em stop-motion feito a partir de pinturas em óleo, produzidas por uma equipe de mais de cem artistas. O filme, obviamente belíssimo, acompanha a jornada do filho do carteiro que entregava as cartas entre Vincent e seu irmão, Theo Van Gogh, para descobrir o que o levou ao suicídio, por meio de conversas com as pessoas que viveram ao seu redor. Como o próprio trabalho do artista, o filme tem um tom melancólico, explorando os contrastes entre a felicidade aparente e a depressão que consumia o pintor desde a infância.

Custódia
(Jusqu'à la garde, Xavier Legrand, França, 2017)

Avaliação: Excelente

Xavier Legrand alcançou destaque na Competição Novos Diretores com um drama difícil, desses de fechar os olhos em algumas cenas, tipo de filme bastante apreciado nas mostras. Depois do divórcio, Myriam e Antoine dividem a guarda do pequeno Julien - escudo para uma mãe perseguida, refém de um pai ciumento e violento. A complexidade do tema divórcio/custódia é fundo para a verdadeira aflição do longa - quando os rastros de uma relação abusiva chega a consequências assustadoras. "Custódia" venceu os prêmios de Melhor Direção e Melhor Primeiro Filme no Festival de Veneza.

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Por Juliana Varella

Atualizado em 1 Nov 2017.