Guia da Semana

Mais de quatro anos depois do último Gran Turismo (Gran Turismo Sport, lançado em 2017) e mais de oito anos (!!!) desde o último lançamento na linha principal (Gran Turismo 6, 2013), finalmente chegou o tão aguardado Gran Turismo 7, disponível a partir de 4 de março para PlayStation 4 e 5.

Mas, depois de tantos anos de espera, e com tanta expectativa entre os fãs da franquia, será que o título é tudo que imaginavam? Ou será que vai ser mais uma entre tantas decepções? Confira agora nessa review antecipada do Pizza Fria!

Máquinas que moldaram gerações

Se, como eu, você tem 30 anos ou mais, não deve ser muito difícil pensar o quanto os carros fizeram parte da sua vida. Desde a infância, brincando com carros de brinquedo no chão de casa, apostando as corridas mais emocionantes, até a juventude, finalmente conseguindo o carro emprestado dos pais para encontrar com aquela pessoa especial.

Sendo ou não um fã de esportes a motor, todos têm histórias sobre as manhãs de domingo assistindo corridas inacreditáveis do Ayrton Senna na Fórmula 1. Ou até mesmo momentos cotidianos como parar a pelada na rua pra assistir aquele esportivo incrível passar.

Automóveis fizeram parte do dia-a-dia e da história de muitos de nós, e é este o foco principal de Gran Turismo 7. Cenas exatamente como essas que acabei de descrever compõem o vídeo de abertura do jogo. Desde as entrevistas iniciais sobre o game, Kazunori Yamauchi já deixava claro: este é um título focado em apaixonados por carros.

Todavia, nem todos compartilham dessa paixão pelas máquinas de quatro rodas. Principalmente entre os mais novos, onde os celulares e tecnologia desviaram o interesse de boa parte das interações com carros, esse encanto muitas vezes está muito distante de sua realidade. Sabendo disso, “Kaz” é enfático: Gran Turismo 7 vai fazer o possível para converter quem puder para a sua “religião”.

Gran Turismo 7
A riqueza nos detalhes. (Imagem: Divulgação)

O “modo história” de Gran Turismo 7

Depois de Gran Turismo Sport, o público teve uma forte preocupação em como seria a campanha offline de Gran Turismo 7. Afinal de contas, o título anterior teve foco majoritário em tornar a franquia um título de esports, e portanto foi “depenado” de boa parte da jogabilidade single player, tradicional da franquia.

Lá se iam as “tunagens” de carros, a busca pelo carro ideal para vencer um campeonato ou as famosas provas de licenças (ou a “carteira de motorista”), icônica da série. Porém, não temam: logo nos primeiros minutos de gameplay, essa pergunta foi respondida com firmeza. Sim, todos esses recursos (e muitos outros) estão de volta, e digo mais: melhores do que nunca.

Logo ao abrir o jogo a primeira vez, somos apresentados ao hub central, um cenário com diversas regiões, onde cada uma delas é um menu do jogo. E inicialmente, nenhum desses é um modo multiplayer, afinal, é necessário correr algumas milhas antes de liberá-lo. Ao invés disso, o jogo nos direciona ao Café, uma área inédita na franquia.

Nele conversamos com NPCs, os quais nos entregam “cardápios”, os quais nada são além de missões a serem cumpridas por recompensas, dando ao Gran Turismo pela primeira vez um aspecto de “modo história”. Mas por “história” não quero dizer uma história do jogo, mas sim a história deles, os automóveis.

Por exemplo: um dos primeiros cardápios do jogo te dá a missão de coletar 3 hatches clássicos europeus: Fiat 500, Mini Cooper e o Volkswagen Beetle (o icônico Fusca). Todos podem ser conquistados ao alcançar o pódio em corridas específicas, e ao completar a missão, o jogo te presenteia não apenas com itens do jogo, mas também com a história destes carros, e como eles moldaram a indústria automobilista nos anos 60 e permitiram que carros se tornassem acessíveis para milhares de pessoas.

Detalhes como esse ajudam a desenvolver a ideia de que não estamos apenas correndo com “velharias” para chegar em 1°, mas sim entendendo o valor de cada design, a história por trás de cada para-choque e o peso de cada um desses ícones.

Gran Turismo 7 - Ferrari Testarossa
Cada automóvel tem sua história e suas particularidades – e esse é o foco do jogo. (Imagem: Divulgação)

Visuais de Gran Turismo 7

E por falar em detalhes, esse é um grande foco do visual de Gran Turismo 7. Isso porque em cada apresentação de uma categoria, ou ao receber um novo veículo, é evidente o carinho que foi dedicado aos detalhes visuais dos carros. Ranhuras internas de faróis e lanternas, costuras de bancos e até botões de painéis podem ser vistos em cada um dos mais de 400 veículos do jogo.

Ao abrir um carro na sua garagem ou colocá-lo no novo modo foto (chamado aqui de modo Scapes), é possível apreciar cada um desses detalhes com realismo inigualável. Isso porque, além da riqueza dos modelos, estes modos contam com o novo recurso de ray tracing, que destaca ainda mais a beleza das latarias com reflexos das luzes e do cenário ao redor.

Infelizmente, boa parte dessa inovação visual não se refletiu para os modos de corrida. Em favor de manter a jogabilidade estável em 60 FPS, a gameplay não conta com ray tracing, e além disso os cenários e texturas tem qualidade muito inferior. Mesmo tendo jogado muitas horas de Gran Turismo Sport, foi difícil buscar melhorias visuais entre Gran Turismo 7 e o título anterior.

A exceção, talvez, fica apenas na iluminação, que mostra reflexos da luz do sol nos vidros e lataria de maneira mais fiel. Porém, é muito pouco para dizer que há uma evolução gráfica em comparação ao título de 2017, que para a época já não era uma referência visual, com franquias como Forza tendo vasta superioridade nesse quesito.

Sons e jogabilidade

No quesito sonoro, também não se vê praticamente evolução alguma. Ponto que já era muito questionável na franquia há vários títulos, é mais uma vez notável o quanto Gran Turismo 7 está atrás de concorrentes, com sons de motores que são muito parecidos entre si (e que mais parecem aspiradores de pó), e barulhos de derrapagens monotônicos e pouco realistas. A única evolução, que já é padrão na geração atual, é o áudio 3D, a qual permite uma boa noção espacial de onde estão os veículos rivais ao se aproximarem de você.

A jogabilidade em geral também parece estagnada no tempo, com praticamente nenhuma mudança na física, em colisões ou dirigibilidade dos veículos em relação aos títulos anteriores. O maior destaque nesse quesito em Gran Turismo 7 é na forma como percebemos as interações do carro através do DualSense.

É possível sentir exatamente qual lado do carro está perdendo aderência numa curva, por exemplo. Ou quando uma das rodas está passando por cima de uma zebra. Até ao trocar de marcha, cada interação do automóvel pode ser claramente sentida através do feedback tátil do controle. Os gatilhos também trazem informações muito importantes ao game, como por exemplo: ao largar, caso as rodas derrapem, o gatilho do acelerador vibra de maneira análoga. O mesmo é sentido ao travar as rodas em frenagens, onde o L2 pode ser sentido acionando o ABS, similar a um carro real.

Trazendo mais um ponto positivo, o jogo traz um realismo climático impressionante. Isto porque cada região das pistas de Gran Turismo 7 foi mapeadas com todas suas condições climáticas típicas, como temperatura e pressão atmosférica, além das direções de nascer e pôr do sol e mapa de estrelas da localidade. Assim, em Interlagos, os céus se parecerão com os céus de São Paulo, e durante a corrida o clima na pista se comportará como o clima de São Paulo. Poças de águas durante chuvas se acumularão mais nas partes onde isso ocorre na vida real, e certos trechos tenderão a ter chuvas mais intensas que outros, similar à pista real.

Gran Turismo 7 - Porsche
Corridas com diferentes condições climáticas fazem parte da gameplay de Gran Turismo 7. (Imagem: Divulgação)

Customizações

Muito desejada pelos fãs de longa data, a customização dos carros está de volta em Gran Turismo 7 e mais completa do que nunca. Na Oficina de Tuning, é possível gastar seu dinheiro suado para investir em peças e melhorias para seu possante. Desde suspensões ajustáveis até as pastilhas de freio, são diversas as opções de tuning.

As melhorias permitem as corridas mais inusitadas, como por exemplo, quando resolvi entrar em uma competição contra hatches europeus modernos, como VW Polos e Renault Méganes, utilizando um velho Mini Cooper S de 1965.

Mas as customizações não ficam só na compra de peças. Antes de cada corrida, é possível ajustar cada um dos componentes. Mudar a relação de marchas, altura e taxa de compressão das suspensões, ângulo de cambagem, eletrônica do motor, aerodinâmica. Cada peça pode ser adaptada para cada tipo de pista, carro ou estilo de pilotagem.

Finalmente, há também as mudanças estéticas, disponíveis na área GT Auto. Pinturas, adesivos, aerofólios e até mudanças na largura da carroceria são possíveis aqui. Além disso, na área é possível também realizar manutenções no motor, trocas de óleo e até lavar o carro, ao melhor estilo Gran Turismo.

Os modos de jogo de Gran Turismo 7

As missões do Café são um excelente guia para explorar as possibilidades do mundo de Gran Turismo 7 e ter um norte do que fazer em seguida. Porém isso não é a única coisa a se fazer no game.

Caso se canse das corridas, as provas de licenças são uma boa forma de melhorar sua técnica em diversos tipos de traçados. Elas consistem em desafios de tempo em trechos de pista, onde não é possível escolher o veículo nem customizá-lo.

O desafio é puramente de direção, e alguns exigem total perfeição nos traçados para garantir a medalha de ouro. Certas corridas exigem a qualificação em uma licença específica, porém não se preocupe, pois para ter a licença é necessário apenas o bronze em cada um dos testes, e isso em geral não é um desafio muito grande.

De maneira similar, temos agora no Gran Turismo 7 o modo “Missões”, onde a busca também é por medalhas em situações específicas. Porém o foco aqui são as ultrapassagens em cenários diversos, os quais exigem o aprendizado de certas técnicas como, por exemplo, utilizar o vácuo dos carros em pistas de alta velocidade.

Por fim, Gran Turismo 7 conta também com o modo multiplayer. O mesmo importa a estrutura de lobbys com pistas e horários e categorias pré-determinados, similar ao modo Sport do título anterior. Porém, temos aqui também o retorno dos lobbys customizados, onde qualquer um pode criar salas com suas escolhas de pistas, limites de PP (Pontos de Performance, que informam o quão “poderoso” é um veículo), entre outras opções.

Gran Turismo 7 - Chaparral
Os mais de 400 carros da coleção incluem uma enorme variedade de categorias e estilos de veículos. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Gran Turismo 7?

Gran Turismo 7 é um retorno absoluto às raízes da franquia, seja para o bem ou para o mal. Fãs do título, principalmente aqueles que se sentiram desapontados pelo spinoff focado em multiplayer de Gran Turismo Sport, certamente terão uma boa experiência. Porém, para aqueles que já experimentaram outros títulos, principalmente os da linha principal, e não gostaram, não há o que dizer.

A gameplay em geral é a mesma de sempre, assim como gráficos e sons, o que pode desagradar um grande público, principalmente pelo aspecto já datado. Para aqueles que desconhecem totalmente a franquia, Gran Turismo 7 pode ser um excelente título de entrada, graças ao novo modo Café, que traz uma excelente introdução ao mundo de Gran Turismo, e aos novos modos, que podem ser desafiadores e muito divertidos. Após experimentá-lo, quem sabe você até não se torna um aficionado por carros?

Gran Turismo 7 será lançado no Brasil sexta-feira, 4 de março, para PlayStation 4 e PlayStation 5. A versão de PS4 está disponível por R$ 299,90, enquanto a cross-buy custa R$ 349,90. Já a Digital Deluxe, que oferece, além das versões para ambos os consoles, 1.500.000 CR (créditos de jogo), um Special Toyota GR Yaris, 30 avatares da PSN e a trilha sonora oficial, sai por R$ 449,50.

*Review elaborada no PlayStation 5, com código fornecido pela Sony.

Pizza Fria

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Por Sérgio Barbosa, Pizza Fria

Atualizado em 2 Mar 2022.